segunda-feira, 23 de julho de 2012

Só é seu, aquilo que você dá.

É engraçado, mas quanto mais a vida me mostra que eu posso perder, mais eu quero me doar, sabe? (Pensei em "dar", mas muito promíscuo para mim. Se você conseguir ler dar sem pensar em sexo, por favor a substitua!).
Foi assim, quando eu me desfiz de um relacionamento de 8 anos. Eu senti que por mais que a gente construa o que quer, do jeito que quer, nada está seguro. E só querer não é suficiente pra nada. É preciso muito mais que vontade em tudo, é preciso ser. Ser em cada desejo, em cada ação, é preciso que você inteira esteja ali.
Eu cortei 30 cm de cabelo no dia 27 de julho de 2011. Desde os 5 eu tinha cabelos compridos. Já haviam me oferecido mais de 1000,00 reais por ele, já que não tinha química nenhuma. Eu enviei, pelo correio, para uma fundação que faz perucas para mulheres com câncer. Se chegou? Nunca procurei saber, a intenção já havia se cumprido.

Ás vezes, eu sinto (muito forte e verdadeiro) que uma das coisas mais fortes que já existiram em meu coração, pode estar apenas de passagem... E, claro, eu estou bem triste. Na verdade, há anos essa sensação de impotência misturada com descrença não me ocorria. Já tinha me esquecido como ela é potente, como me domina, e se torna física, comprime meu estômago, cerra a garganta e amolece as pernas. E depois chorar um pouco e rezar um muito, eu acordei com essa vontade gigantesca de me desfazer. O cabelo ainda não cresceu e eu posso ser mais criativa. Estou a pesquisar!
Sim, quanto mais eu posso perder, mais eu posso dar.

Tanta coisa já me foi tirada, justamente por não SER minha, que o que é meu, plenamente meu, é tão meu, que eu posso dar livremente. Isso me faz lembrar de uma música do Arnaldo Antunes (porque enquanto alguns pais colocavam bandas moderninhas para os filhso ouvirem, meu pai me dava fitas/CDs de: Bolero de Ravel, Beto Guedes, Titãs e Arnaldo Antunes! Mas o gosto musical fica para outro dia.) que fala assim: "Só é seu aquilo que você dá. O beijo que você deu é seu, é seu, é seu...". Demorei pra entender. Tipo aquela que eu escrevi aqui outra vez, sabe? Do "todo grande amor só é bem grande se for triste"? Então essa eu também demorei pra aceitar. Mas hoje eu entendo.

E pensando assim, eu que não tenho muitas coisas, também não tenho muito a oferecer, ou que eu possa dar "livre e feliz" (de outro Titãs: Nando Reis!), mas poder se desfazer, me faz lembrar que eu também posso fazer e refazer e rerefazer e talvez todo esse medo de perder, de não ter o que eu queria ter para sempre, todos os dias, passe um dia, em uma esquina onde eu consiga deixar mais um pouco de mim e recomeçar.

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