quinta-feira, 26 de julho de 2012

A melhor amiga

Eu evitei a minha vida toda escrever esse texto.
Tá certo que eu já escrevi várias cartinhas pras minhas amigas, dizendo como elas eram importantes e especiais e até hoje eu ainda escrevo recadinhos, mensagens. Mas assim, escrachar o tema, tipo dar nome aos boi e por os pontos nos is, nunca. Acontece que (eu adoro essa expressão “acontece que” – me parece que ao mesmo tempo e que explica algo, ela mostra o quão espontâneo e alheio a mim o fato foi ou como ele simplesmente me ocorreu na abeça. Sei lá.) ontem, extamente ontem, eu esta numa reunião, viajando (que o que todos fazem quando alguém tem a brilhante idéia de usar slides em tons azuis e fazer a apresentação sentado) e me lembrei como eu me senti feliz, viva, engraçada, divertida, completa um dia que eu e minha melhor amiga resolvemos ser ousadas e sair sozinhas. (A ousadia não foi bem o “sair sozinhas”, afinal, com 24 anos, se isso fosse uma ousadia teríamos passado pelo menos 3 num internato! Mas essa fica pra outro dia.) O fato é que ali com ela, rindo, num show péssimo, ouvindo uma música que a gente quase odeia e num lugar com gente estranha (detalhe: é estranha, não feia, o que pode ser beeem pior!), eu me diverti tanto, que sentada na sala de reunião, eu só pensava em como era preciso pouco, como eu não preciso de tudo que acho que preciso para sorrir, para estar bem.
E aí, passaram-se 10 minutos e....tcharan! Mensagem. De quem?!
Pois é, a amizade tem dessas sintonias que a gente nunca vai entender. Que nem compensa refletir sobre, porque a resposta não está no alcance das mãos. Era uma mensagem simples. Mas mexeu comigo.
Reunião acabou e eu inflamada de alegria, sorrindo pro nada e mordiscando o lábio para tentar disfarçar, mas a essa altura, meu coração já tinha mudado de marcha: como eu queria falar com ela! Meus dedos desgovernados como só eles escreveram em minutos a minha alegria e como eu tinha pensado nela num instante anterior a sua mensagem.
E lentamente, sem que eu percebesse, meus dedos não obedeciam mais minha razão, minha vontade de saber dela, minhas novidades...e eu comecei a transbordar meu coração naquele e-mail. Não foi um vazamento total, porque isso requer o duto dos olhos, mas minha maior aflição estava ali, meu calinho, minha pedra no sapato. E eu hesitei: 1. Porque ela ta parindo um baby de nome Dissertação. 2. Porque não é assim que a gente costuma funcionar, via e-mail – muito embora nossas conversas sempre me pareçam um poema. 3. Porque depois, um dia, talvez daqui 3 meses ou um ou 6, eu vá repetir toda historia na cara dela.
Mas eu mandei mesmo assim, mesmo me sentindo um cadinho egoísta.
Dia acabou. Casa, tv, louça...email!!!
Foi aí que eu chorei de alegria. Sim. Lágrimas e lágrimas, da melhor qualidade, de soluços descontrolados, de apertos no peito, de gargalhadas sozinhas, de se revirar no sofá. Meu Deus! Há quanto tempo eu não me sentia tão feliz por “nada demais”, corrigindo, por algo tão simples.
Melhor amiga a gente escuta a voz quando ve um fato ou lê um e-mail, sabe as caretas que ela fez em cada vírgula, sabe dos bracinhos mexendo no ar, sabe do sorriso, sabe do tom da piada, sabe o momento em que ela te daria o abraço, sente o abraço.
Ela não pensa que precisa ser sincera, porque é o tipo de coisa intrínseca de Amigos, tasca logo um: “Eu tinha mais um monte de coisas a fazer, mas preferi responder pra você!”. E me arranca a primeira gargalhada, o primeiro alívio, por ver que é ela mesmo que está ali.
Depois não me julga, nunca, em nenhum segundo. Como é difícil isso, eu penso. Minha Mãe me julga. Mas ela não. Não me chama de louca, nem me convence de coisa nenhuma, pelo contrário, desce pro meu degrau, se coloca na mesma altura que eu, se mostra tão frágil quanto eu sou nesse momento. Se abaixa para me levantar. E me faz chorar desesperadamente. E sorrir para o teto incontrolavelmente, enquanto aperto o computador no meu peito.
Ela não me diz palavras de ordem do tipo: “Erga a cabeça”, ou “Corra atrás” ou “Esquece isso”. Não. Ela me permite sofrer, me lembra de que é assim mesmo, que faz parte e, o principal, que eu não devo fugir de nada disso. E ela diz que não sabe o que dizer. Mas não poupa uma vírgula do que Acha.
Não me ilude, nada de “jajá passa” ou “vai se distrair” ou “relaxa, curte a vida”. Pelo contrário, me lembra das minhas escolhas, me lembra do meu gênio, me lembra de quem eu sou.
(Sim, às vezes a gente precisa que alguém nos lembre quem somos. Mas só os que realmente nos conhecem e nos amam e nos entendem podem fazer isso.)
E termina me colocando no colo, me dizendo que a vida é assim mesmo, mas que eu às vezes posso me enganar, como qualquer um e que eu posso me divertir sem culpa, e que eu posso ser menos exigente, e que eu terei sempre ela ao meu lado.
Choro e releio. Releio e choro, num ritual de uns 40 minutos, as 15 linhas da minha melhor amiga.
É, fico pensando...acho que o texto sobre melhor amiga nunca vai estar terminado. Sempre vai faltar um ponto no I e sempre vai ficar boi sem nome. Mas é proposital.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Segunda de manhã.

eu acordei encolhida no canto da cama, encostada na parede e enrolada em um edredon fino. enquanto o outro edredon ocupava seu lugar. minha perna estava assim em cima dele e minha mãe direita também, como eu me apoio em você, mas não havia calor. não era você. acordei sozinha de novo. isso acontece todas as segundas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Só é seu, aquilo que você dá.

É engraçado, mas quanto mais a vida me mostra que eu posso perder, mais eu quero me doar, sabe? (Pensei em "dar", mas muito promíscuo para mim. Se você conseguir ler dar sem pensar em sexo, por favor a substitua!).
Foi assim, quando eu me desfiz de um relacionamento de 8 anos. Eu senti que por mais que a gente construa o que quer, do jeito que quer, nada está seguro. E só querer não é suficiente pra nada. É preciso muito mais que vontade em tudo, é preciso ser. Ser em cada desejo, em cada ação, é preciso que você inteira esteja ali.
Eu cortei 30 cm de cabelo no dia 27 de julho de 2011. Desde os 5 eu tinha cabelos compridos. Já haviam me oferecido mais de 1000,00 reais por ele, já que não tinha química nenhuma. Eu enviei, pelo correio, para uma fundação que faz perucas para mulheres com câncer. Se chegou? Nunca procurei saber, a intenção já havia se cumprido.

Ás vezes, eu sinto (muito forte e verdadeiro) que uma das coisas mais fortes que já existiram em meu coração, pode estar apenas de passagem... E, claro, eu estou bem triste. Na verdade, há anos essa sensação de impotência misturada com descrença não me ocorria. Já tinha me esquecido como ela é potente, como me domina, e se torna física, comprime meu estômago, cerra a garganta e amolece as pernas. E depois chorar um pouco e rezar um muito, eu acordei com essa vontade gigantesca de me desfazer. O cabelo ainda não cresceu e eu posso ser mais criativa. Estou a pesquisar!
Sim, quanto mais eu posso perder, mais eu posso dar.

Tanta coisa já me foi tirada, justamente por não SER minha, que o que é meu, plenamente meu, é tão meu, que eu posso dar livremente. Isso me faz lembrar de uma música do Arnaldo Antunes (porque enquanto alguns pais colocavam bandas moderninhas para os filhso ouvirem, meu pai me dava fitas/CDs de: Bolero de Ravel, Beto Guedes, Titãs e Arnaldo Antunes! Mas o gosto musical fica para outro dia.) que fala assim: "Só é seu aquilo que você dá. O beijo que você deu é seu, é seu, é seu...". Demorei pra entender. Tipo aquela que eu escrevi aqui outra vez, sabe? Do "todo grande amor só é bem grande se for triste"? Então essa eu também demorei pra aceitar. Mas hoje eu entendo.

E pensando assim, eu que não tenho muitas coisas, também não tenho muito a oferecer, ou que eu possa dar "livre e feliz" (de outro Titãs: Nando Reis!), mas poder se desfazer, me faz lembrar que eu também posso fazer e refazer e rerefazer e talvez todo esse medo de perder, de não ter o que eu queria ter para sempre, todos os dias, passe um dia, em uma esquina onde eu consiga deixar mais um pouco de mim e recomeçar.